sexta-feira, 20 de maio de 2011

Esquecimento

Esse de quem eu era e era meu.
Que foi um sonho e foi realidade.
Que me vestiu a alma de saudade.
Para sempre de mim desapareceu.
Tudo em redor então escureceu.
E foi longínqua toda a claridade!
Ceguei... tateio sombras... que ansiedade!
Apalpo cinzas porque tudo ardeu.
Descem em mim poentes de Novembro...
A sombra dos meus olhos, a escurecer...
Veste de roxo e negro os crisântemos...
E desse que era eu meu já me não lembro...
Ah! A doce agonia de esquecer
A lembrar doidamente o que esquecemos!


Florbela Espanca

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Você

Seus olhos são lindos, sua pele macia e perfeita, clara, sem manchas, sem rugas, sem nada de imperfeito.
Sua boca, rosada, carnuda, pronta para receber um beijo. Sua bochecha macia, alva, com um toque rubor, levanta num sorriso quando me vê.
Me apaixonei completamente por você. Não quero me afastar nem por um segundo.
Seu corpo é muito perfeito, lindo.

Chegou a hora crítica do dia.
me afastar do espelho e me convencer que é apenas minha imagem refletida

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Se tu viesses ver-me

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesse toda nos teus braços...

Quando me lembrai esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesse quando, linda e louca,
Traças as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca